quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Zefinha e Osvaldinho

Zefinha e Osvaldinho formavam um casal inseparável. Para onde um ia, o outro ia junto. É claro que, no trabalho, cada um ia para seu lado já que trabalhavam na mesma firma e não ficava bem os dois se grudarem o tempo todo. Como divertimento, o que eles gostavam mesmo era do carnaval. Esperavam o ano todo pelo carnaval. E foi assim naquele ano.
Com o dinheiro do décimo terceiro eles compraram a fantasia. Quer dizer, compraram o tecido e mandaram uma conhecida deles costurar as duas fantasias de papangu. As fantasias ficaram lindas e bem baratinhas. Para se reconhecerem no meio do povo, ela bordou nas costas das fantasias as letras "Z" e "O". Dessa maneira, não se perderiam um do outro lá naquelas multidões dos Quatro Cantos, da Ribeira, da Prefeitura.
Chegou o carnaval. Programaram ir para os Quatro Cantos logo no sábado pela manhã. Cúmulo do azar: Zefinha amanheceu com uma enxaqueca, uma dor de cabeça daquelas. Osvaldinho ficou chateado, mas não ia sair deixando a mulher sozinha daquele jeito. Ele ficou em casa e aproveitou para fazer uns pequenos reparos domésticos: consertar torneira, trocar interruptor, essas coisas.
No domingo de manhã, Zefinha acordou um pouco melhor, mas achou mais prudente ficar em casa. Se fizesse algum exagero podia piorar e ainda havia a segunda e a terça para se divertirem. O melhor era o marido ir sozinho mesmo. Depois de muita conversa, ela convenceu o Osvaldinho a ir só.
- Vai lá, homem. Dá pelo menos uma volta. Amanhã eu também vou.
Meio a contragosto, o Osvaldinho vestiu a fantasia e foi. Mas só depois do almoço.
E não é que lá pela metade da tarde a Zefinha ficou boa? Boazinha! Não sentia mais nada. Esperar o quê? Vestiu a fantasia e foi pra folia. Saltou do ônibus na Praça do Carmo e saiu por ali. Tinha certeza de encontrar o Osvaldinho.
Andou, andou e já era noite quando viu um papangu com a letra "O" bordada nas costas. Não teve dúvida: era ele, Osvaldinho. Foi lá, deu um abraço bem gostoso. Beijar, não. Também, com aquela máscara. E saíram abraçados. Andaram um pouco e viram um beco, umas árvores, um escurinho. Foram para lá e se amaram perdidamente. Para não desfazer o mistério, nenhum dos dois tirou a máscara.
Ah! Que maravilha! Voltaram do escurinho na hora em que ia passando o Bloco da Saudade e, no empurra-empurra, os dois se perderam na multidão.
Coisa chata. Logo agora que tinham se encontrado se separarem assim.
Bom, fazer o quê? Ir pra casa mesmo. Lá, se veriam de novo.
E Zefinha decidiu voltar pra casa. Afinal de contas, já estava ficando meio tarde. Gente de mais.
Até que ela atravessasse aquela multidão e chegasse ao ponto do ônibus já passava das oito.
Ao chegar em casa, ela encontrou Osvaldinho na sala, de pijama vendo televisão. Os dois ficaram muito surpresos e cada um perguntou ao outro ao mesmo tempo:
- Ficou boa?
- Já chegou?
Refeita do susto, ela falou:
- Cadê sua fantasia?
E o Osvaldinho explicou:
- Assim que cheguei no Varadouro, encontrei o Toinho lá da contabilidade, sabe quem é, né? Aquele do computador. Eu tava meio desanimado mesmo. Sem você... Aí eu emprestei a fantasia a ele. Ele disse que traz amanhã de manhã. Depois fui pra casa de mãe. Voltei não eram nem cinco horas. Fiquei aqui te esperando. Já ficou boa, foi amor?

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